Lançamento julho 26, 2025
— Não.
Avaliei mentalmente uma dúzia de respostas para a afirmação simples do Destino.
Depois, uma dúzia de possíveis réplicas para cada uma dessas respostas. E minhas contrarrespostas para cada eventual resposta do Destino.
Tudo levava a uma única e inevitável conclusão: o Destino não conhecia empatia. Nenhum senso de honra. Nenhuma responsabilidade além daquela imposta pela ordem natural das coisas. Nada que pudesse ser tocado por um apelo emocional.
O peso das minhas próprias expectativas, cultivadas nos longos instantes em que lutei para me libertar da última pedra-chave, esmagou meus ombros. Eu havia aceitado, com inteira convicção, que o Destino cumpriria sua parte do acordo, como uma planta que cresce ao receber água e luz. Eu havia calculado mal.
Mas que plano de contingência poderia haver? Se o Destino não está disposto a conter o impacto total do reino etéreo, então tudo está perdido.
A tensão compartilhada das consciências interligadas de Sylvie, Regis, Tessia e Ji-ae, todas presentes na conversa ao meu lado, era como um pistão a vapor prestes a romper seu invólucro.
— Arthur, as Relictombs.
A voz de Sylvie soou como um alarme em minha mente, trazendo-me de volta ao presente. Eu quase havia perdido o controle da zona que se desenrolava a partir das Relictombs como um em um caleidoscópio de solo, grama dourada, éter atmosférico, tempo fragmentado e luzes arco-íris. Uma criatura felina de pele coriácea e verde venenoso implodiu, respingando sangue no solo distante enquanto minha concentração vacilava. Dois Ascendentes gritaram ao despencar no turbilhão caótico, mas consegui apanhá-los num redemoinho de líquido cor de ameixa antes que fossem esmagados contra as raízes da montanha.
Foco.
Epheotus e as Relictombs eram prioridade. Se não conseguisse convencer o Destino, passaria à próxima alternativa. E, se essa falhasse, à seguinte. O Destino era a voz do éter, mas não era o éter em si. Apesar do nome que carrega, não controlava tudo o que acontecia. E eu não estava sem influência. Se conseguisse conter a pressão do reino etéreo tempo suficiente para concluir esta visão, então o caminho de menor resistência para o Destino seria seguir com meu plano.
Porque, no fim, era isso o que o Destino fazia: seguia o caminho mais fácil, mais direto.
— A pressão está vindo em ondas agora. — Os pensamentos de Ji-ae vieram acompanhados de uma sequência de cálculos.
Não compreendi os números de imediato, mas com eles veio uma compreensão mais lenta, que desabrochava em minha mente como uma flor sob o sol.
Com base nesse deslocamento, se eu conseguir reagir nos momentos certos, talvez consigamos impedir que a superfície entre o reino físico e o vazio etéreo se rompa, pensei, de súbito tomado por uma fagulha de esperança. Talvez o fato de a força oposta do rio etéreo vir em ondas, em vez de uma escalada contínua, signifique que esse padrão se manterá.
Virei as costas para o Destino. Implorar só desperdiçaria a energia que eu precisava para o que ainda restava.
Abaixo de mim, um portal dos Relictombs, agora com mais de cento e vinte metros de altura, expelia zona após zona, baseado em um entrelaçar complexo de espaços conectados e nas regras dos djinns de levar Ascendentes a zonas adequadas ao seu poder. Através de uma manipulação espacial ainda mais complexa, usando o Requiem de Aroa, o God Step e a Destruição, essas zonas eram manobradas e encaixadas como peças de um quebra-cabeça que subia aos céus e mergulhava fundo nos ossos das montanhas.
Acima, Epheotus atravessava rapidamente o limiar para o espaço real, reformando-se em três anéis de terra que repousavam sobre éter condensado, impedindo-os de desabar sobre Alacrya e Dicathen.
O tempo dançava ao meu redor em um ritmo constante de pausa e avanço, pausa e avanço. Os olhos de Sylvie estavam cerrados com força, o rosto pálido e coberto de suor. Ela havia se afastado alguns metros, perdendo altura, totalmente concentrada na tarefa de conter a passagem do tempo.
Tessia estava em situação ainda pior. Um único fio da minha consciência, espalhada como uma teia, mantinha conexão constante com ela. A vontade de Myre aquecia meu núcleo, uma sensação distante, e por meio dela eu canalizava éter de cura até Tessia, compensando o dano contínuo infligido ao seu corpo.
Regis havia desaparecido no fundo dos meus pensamentos, apenas mais um entre tantos fios de consciência. Todo o seu foco permanecia na runa divina da Destruição, despejando chamas violetas no espaço em mutação — sem isso, todo o resto desmoronaria.
— A próxima onda está se aproximando — avisou Ji-ae, embora seus cálculos também já estivessem fluindo em minha mente.
Mantendo a contagem junto à minha respiração, puxei o máximo de éter que consegui, armazenando-o em meu núcleo enfraquecido, em meu corpo torturado, até mesmo na armadura relicária. Então, no instante exato em que a onda de pressão do reino etéreo colidiu com a fronteira da realidade, lancei todo o éter que pude nas rachaduras entre os dois mundos, tentando contê-la.
O portal brilhou intensamente, tornando-se um sol púrpura e oleoso que ameaçava devorar as montanhas. As três faixas de Epheotus tremeram, e a própria realidade pareceu prestes a se desfazer pelas costuras.
Se os cálculos de Ji-ae estivessem corretos, eu tinha apenas dezenove segundos até a próxima onda. Fiz alguns cálculos rápidos e senti o gosto de bile na garganta. Dez ondas só para concluir o primeiro anel. Quarenta e três até completar toda a estrutura.
— Você precisa de mais éter — disseram as vozes dentro da minha mente. Era difícil discernir se vinham de Tessia, Ji-ae, Sylvie, Regis… ou de todos ao mesmo tempo.
— Ainda não estou pronto pra desistir — pensei, tentando desprender um quadrante da minha teia mental para encarar o problema.
A teia se esticou, e esticou, até o ponto de quase se romper. O Gambito do Rei queimava em minhas costas e dentro da massa cinzenta do meu cérebro, enquanto a coroa sobre minha testa lançava feixes divinos pela minha visão. O éter inundou uma rede inteiramente nova de neurônios sensoriais, ativados e potencializados pela runa divina. Contudo, não havia fios livres para dedicar à tarefa. Eu estava no limite da capacidade do Gambito do Rei. Não podia estendê-lo além disso.
O éter. Minha compreensão da runa divina — ou do aspecto do éter que ela representava — já havia se expandido consideravelmente nesses poucos instantes. O éter é… consciência manifestada como realidade pura. O começo e o fim do espaço, do tempo e da vida. A centelha do pensamento contida numa consciência semi-desperta. Então, o Gambito do Rei é… o quê?
Vi não apenas os fios em si, cada um sendo um pensamento único e individual, mas também o espaço entre os fios. E, ao fazer isso, percebi que, na verdade, não havia ramos, fios ou mesmo uma estrutura de teia. Tudo aquilo eram apenas metáforas para a natureza alterada da minha consciência, pois cada ideia era infinitamente mais complexa do que um mero fio ou galho. Cada uma era sua própria consciência etérea, uma estrutura multidimensional complexa feita para conter o desdobramento simultâneo de incontáveis pensamentos.
Eu precisava enxergar sob outra perspectiva.
E então…
O Gambito do Rei se desdobrou outra vez. Os fios se entrelaçaram numa teia; a teia, por sua vez, abriu-se como uma galáxia de consciência. Uma espécie de tesselação.
Minha mente se expandiu em planos incontáveis e inquantificáveis, interligados, capazes de abrigar todas as ideias conscientes que eu era capaz de manifestar. Era isso. A verdade por trás da compreensão.
E nela, eu vi… minhas próprias limitações.
Atravessei a primeira fase da vontade de Myre e mergulhei na segunda, forjando um vínculo de vivum entre mim, Tessia, Sylvie e Regis, nos unindo com ondas visíveis de luz branca manchada de ametista.
Envolvi meu núcleo em éter e quebrei sua segunda camada sem esforço, mas não permiti que o éter capturado escapasse. Empurrei-o através do vínculo, revestindo meus companheiros com cura e força enquanto os dobrava em minha consciência tessalada, seus pensamentos se encaixando perfeitamente com as incontáveis ideias individuais que compunham minha estrutura mental.
— Ei, calma aí, não sei se gosto disso. Parece que estou sendo… digerido.
— É como se fôssemos todos… uma só pessoa.
— E de certo modo, somos, acho. Cinco seres, uma única consciência. Como você está fazendo isso, Arthur?
— Precisa mesmo perguntar? Os pensamentos dele são nossos pensamentos, a mente dele é nossa mente. O Gambito do Rei: a abdicação do eu em favor da razão absoluta. Mas para ser sincero, eu gosto muito do meu “eu”, sabe?
— Tá tudo bem. Minha mente também é sua agora, entendeu? Dá pra abrir espaço pros dois. Seja você mesmo, mas também faça parte deste… ser compartilhado. Posso te mostrar como. Ou… nem preciso. Isso já está aí.
— É assim que você sempre se sentiu com o Arthur, Regis?
— Nem tanto. Isso aqui é mais… fluido. E cheio.
— O que estamos experimentando é a confluência de consciências. É uma técnica similar, embora muito mais específica e delimitada, àquela que permitia aos djinns abrigar uma consciência além da casca de seu corpo físico.
O éter nos envolveu numa bolha de espaço e tempo, e juntos disparamos céu acima. Um vento cortante rugia através da fenda com um trovão baixo de furacão, envolto em uma aurora de mana e éter.
Epheotus quase todo já havia atravessado, e a faixa original de terra se aproximava a partir do oeste. Spatium e Destruição cortaram a primeira faixa, separando-a das demais, e o Réquiem de Aroa costurou as bordas do ferimento.
A borda de terra que se aproximava colidiu com a extremidade recém-severada com um estrondo como o de uma montanha desmoronando, e a ponte etérea sobre a qual o anel agora completo repousava tremeu violentamente. O espaço se entrelaçou, e o éter moldou a mana como massa de pão para selar o anel.
Fizemos uma pausa — na medida em que isso era possível com o Gambito do Rei ativo — e reunimos éter antes de lançá-lo novamente contra a ferida, empurrando-o pelo portal para conter a próxima onda. A cada impacto, o éter sob nosso controle diminuía, enquanto a corrente de éter inutilizável que vazava para o nosso mundo aumentava. Então, voltamos nosso foco para Epheotus e as Relictombs.
A borda dianteira do segundo anel se aproximava ao longe, e a torre escalava cada vez mais alto sob meus pés. Nosso tempo precisava ser exato.
— Faltam trinta e duas ondas até completar os três anéis e a Espiral.
— Sou só eu ou mais alguém não consegue dizer onde terminamos e o resto começa? Ter minha mente estendida por todas as vias etéreas assim é um nível de consciência que nunca quis ter. Acabei de ver um velho cagando no mato ao lado da casa destruída dele.
— Recolha sua consciência. Concentre-se na Destruição. Alivie o peso sobre o Arthur.
— Sim, precisamos aliviar onde for possível. Ji-ae, você disse que Arthur precisa de mais éter. Precisamos liberar um pouco da pressão, como fizemos na última zona, mas a mesma técnica não funcionaria aqui, certo? Nossa posição nas Relictombs era isolada, com acesso direto à mana. Aqui, a mana que agita o rio e tenta manipulá-lo… não pode simplesmente ser domada.
Nossa bolha etérea sobrevoou a borda do primeiro anel de Epheotus, então aceleramos como um raio sobre a paisagem. Colinas ondulantes, rios, pequenas aldeias e uma floresta de árvores retorcidas deram lugar a planícies ao alcançarmos o centro do anel — e a grande cidade posicionada ali.
Diretamente acima dos Relictombs ainda em formação, a vila dracônica de Chama Eterna parecia ter sido varrida por um tornado. Já estávamos no centro da cidade antes que os dragões sequer percebessem nossa aproximação. Mana e éter explodiram em alerta, escudos erguidos, armas empunhadas. Gritos ecoaram por toda parte. Meia dúzia de dragões transformados giravam no céu.
— Acalmem-se — ordenou uma voz firme, reverberando por entre os telhados, enquanto uma mulher dragão de olhos prateados e cabelos cor-de-rosa cruzava o pátio central. Ela se aproximou com passos rápidos e decididos, então elevou-se no ar até ficar em nosso nível, parando do lado de fora da barreira que nos continha. Dezenas de outros observavam à distância. — Lorde Arthur. Acabou? — Ela apontou para o céu, tingido de azul com a aurora etérea vibrante onde o segundo anel ainda não o cobria. — Parece que… deixamos nosso plano para trás.
— Quase — respondemos de forma breve. — Mas precisamos de algo de vocês.
Ela nos encarou com nervosismo, movendo-se de modo que as pequenas escamas peroladas sob os olhos cintilassem. — A transição tem sido difícil para nossa vila, como pode ver. Não sei quanto ainda temos a oferecer.
Pausamos para conter a próxima onda vinda do rio etéreo. Enquanto a pressão avançava, observamos a fonte — o ponto por onde chamas etéreas jorravam sem cessar. A fonte que batizava a vila: Chama Eterna.
Ela queimava, disparando um jato de chamas violetas como um gêiser, mas a estrutura resistiu e a fenda não se alargou. Como esperávamos, o rio etéreo não pressionava o suficiente nesta fenda remota para ser perigoso, mas a pequena ruptura ainda estava intacta.
— Só precisamos disto.
Seu olhar seguiu o nosso até a fonte, e suas sobrancelhas franziram-se profundamente.
— Nossa… fonte?
— Exatamente. — Erguemos uma mão, e as partículas brilhantes do Réquiem de Aroa rodopiaram por nosso braço e se espalharam pelo ar, flutuando como pólen por toda a cidade. Derramaram-se sobre construções com telhados desabados e paredes inclinadas, selando rachaduras, erguendo estruturas colapsadas, reconstruindo tudo que tocavam. — Obrigado.
Preah, do Clã Intharah, ficou boquiaberta, e então foi subitamente arrastada quando Epheotus começou a girar, carregando Chama Eterna consigo. A bolha de spatium nos mantinha firmes em nosso lugar, e nós, por nossa vez, segurávamos a fonte, enquanto o chão ondulava ao seu redor como o mar ao redor de um rochedo. O anel girou até pairarmos sobre um deserto árido: o mesmo onde Wren Kain havia nos treinado, tantos anos atrás.
O anel parou. A Fonte de Chama Eterna parecia deslocada naquela vastidão de ravinas e pedras. Um pulso de éter explodiu sua estrutura, destruindo o círculo de runas que mantinha a pequena fenda estável. Quando o éter jorrou, o absorvemos, e soltamos um suspiro de alívio puramente físico quando nosso núcleo foi rapidamente preenchido… rápido demais, e com capacidade de menos.
Grande parte do nosso éter purificado ainda estava lá fora, mantendo sua forma por meio das runas divinas enquanto reformava Epheotus e os Relictombs — uma tarefa que, mesmo àquela distância, ainda comandávamos. O esforço de concentração agora era quase imperceptível, graças à expansão da consciência. Porém, um reservatório ainda era necessário para reagir às ondas e manter o elo entre todos nós.
Agora, operávamos em perfeita harmonia. Sem palavras, apenas troca de intenções e informações. Cinco mentes agindo como uma só. Novos cálculos fluíam constantemente de Ji-ae, tecendo-se à nossa compreensão, enquanto Sylvie retardava o tempo com a naturalidade de uma respiração. A Destruição, canalizada por Regis, entrelaçava-se às nossas runas com precisão impecável. Tessia não apenas servia de condutora para o trabalho de Ji-ae, mas também guiava e protegia Sylvie e Regis. Sua capacidade única de compartilhar uma mente mantinha os outros centrados nas profundezas do Gambito do Rei, permitindo que conservassem seus próprios focos e motivações.
Com o God Step, localizamos o ponto conector no coração da fenda de Chama Eterna. O espaço ao seu redor se expandiu, alargando a fissura até que ela parecia engolir o deserto rochoso. Nossa bolha recuou para evitar ser sugada. Em segundos, a fonte destruída se transformou em uma fenda de mais de um quilômetro e meio de largura. O éter irrompeu como um farol, subindo pelo centro do segundo anel — ainda em formação — e descendo até envolver toda a Espiral das Relictombs.
Quando a Espiral estivesse completa, o grande portal de onde se originava precisaria ser fechado, mas o funcionamento de cada zona das Relictombs exigiria um elo direto com o reino etéreo. Essa fenda cumpriria esse papel enquanto o reino etéreo existisse.
— Onda se aproximando.
Pairando na penumbra entre o primeiro e o segundo anel, que se cruzavam exatamente ali, reunimos o éter e o lançamos contra a pressão do reino etéreo. A fenda recém-alargada de Chama Eterna brilhou mais intensamente, tremendo sob a força do rio etéreo, que agora a atingia com mais ferocidade.
— O segundo anel está quase completo.
Assim como o primeiro, ele havia sido cortado da massa de terra remanescente que ainda emergia do colapso da bolha espacial onde Epheotus existiu por milênios. A outra extremidade avançava rapidamente, cruzando o oceano e a costa oeste de Alacrya. Os dois lados colidiram exatamente acima de nós, e uma combinação de éter, mana e runas divinas selou a fissura, moldando pedra, solo, montanhas e florestas em um único anel contínuo ao redor do mundo.
O feixe de éter seguiu ininterrupto através do segundo anel e avançou para o terceiro, que ainda se formava conforme os últimos fragmentos de Epheotus passavam pelo limiar.
— Faltam dezesseis ondas.
— A Espiral está alcançando a base do primeiro anel.
— Eu fico com a cobertura quando isso acabar. Se a gente sobreviver, claro.
Nossa esfera de spatium mergulhou na fenda de Chama Eterna logo abaixo, mas não viajamos ao reino etéreo. O espaço se distorceu e curvou, formando um túnel, e atravessamos o primeiro anel, emergindo sob ele.
A paisagem nas Montanhas Presas do Basilisco havia mudado drasticamente. A base da Espiral, outrora Taegrin Caelum, havia se expandido tanto que agora exigia uma superfície de mais de seis quilômetros de diâmetro para conter as duas primeiras zonas das Relictombs e sustentar a Espiral que se erguia a quilômetros acima das montanhas.
A rocha e a pedra das próprias montanhas serviram como matéria necessária para conter as zonas, que se formavam andar após andar da Espiral. Ela já havia alcançado quase toda a extensão de cento e trinta quilômetros até o anel inferior, e mergulhava profundamente na crosta do mundo. A cordilheira de montanhas agora era um anel em expansão, ao redor de um vasto platô de pedra lisa, enquanto as próprias montanhas eram engolidas.
O portal que alimentava as Relictombs agora flutuava a quase dois quilômetros e meio de altura, acima do vale escavado pela remoção da montanha. Uma fileira de vegetação exuberante, semelhante a uma selva, se enroscava ao redor da porção já construída da Espiral rumo à superfície, enquanto pedra transformava-se em paredes e o terreno reorganizava-se sob a aplicação cuidadosa de spatium e do Réquiem de Aroa.
Todo o conhecimento etéreo meticulosamente preservado dos djinns, realocado no espaço físico, onde estaria para sempre a salvo do lento colapso do reino etéreo.
O Destino estava nos aguardando.
A silhueta de fios dourados densamente entrelaçados pairava sobre a Espiral em ascensão, envolta por um halo de raios dourados intensos que se espalhavam até os confins do nosso mundo. Minha mente estava aberta novamente, e eu podia ver todos os fios: aqueles que me ligavam aos meus companheiros, às pessoas agrupadas milhas abaixo na base da Espiral, e além, através do mundo. Éramos espelhos uns dos outros. E, ainda assim, por mais que muitos fios se espalhassem em todas as direções, parecia que ainda mais nos ligavam um ao outro.
— Você não pode impedir o que está por vir — disse ele, com uma voz que vibrava por todos os fios ao mesmo tempo. — Como um animal que cava mais fundo em sua toca para escapar de uma enchente, você só acelera seu fim.
A parte de nós que ainda era eu quis zombar, mas a amargura contida no impulso se diluiu na estrutura entrelaçada da nossa consciência coletiva.
— Se os eventos estivessem realmente gravados em pedra, você não precisaria me convencer a parar. Isso significa que o que estamos fazendo está funcionando.
— Podemos salvar este mundo. Já estamos tão perto. Tudo o que você precisa fazer é… nada.
Balançamos a cabeça.
— Mas o fogo não pode decidir parar de se espalhar, assim como o rio não escolhe permanecer em suas margens.
A luz dourada cintilou sobre a forma feita de fios entrelaçados.
— Esta enchente começou no instante em que você entrou neste mundo, Arthur Leywin. Grey. Ela é e sempre foi inevitável. Tudo o que você fez, cada escolha, cada insight, sempre o levaria aqui.
— Você age como se ainda não tivesse aprendido essa lição — dissemos. — Você é falível. Já provou isso, e eu já mostrei a você meu objetivo. E agora, estou tão perto. Você fracassa em seu próprio propósito de proteger a ordem natural ao insistir, falsamente, que tudo já está decidido, como se já tivesse acontecido.
Algo semelhante a uma risada ecoou do Destino, mas era áspera em sua diversão, uma sensação de desarmonia expressa na forma de um riso seco.
Olhamos ao redor, encarando o tecido da realidade, o tempo, o espaço e a própria vida. Já havíamos visto este momento. Nossas próprias limitações. Sabíamos que palavras não seriam suficientes para influenciar o Destino. Foi onde falhamos antes. Não se negocia com o Destino. Não se convence a chuva a parar de cair, mesmo que pessoas estejam morrendo na enchente.
E, ainda assim, o Destino era mais do que um fenômeno natural sem sentimentos. Havia, contido nele, uma coletividade de consciências que o definiam. Se o éter pôde se afastar dos dragões por causa do genocídio dos Indrath, então também poderia influenciar o Destino.
Só que isso não era algo que pudéssemos impor ao Destino por nossa própria vontade. Ao enxergarmos nossos limites, nos tornamos conscientes do que precisava acontecer, mas a própria natureza da nossa relação com o éter impedia que o manipulássemos da única maneira eficaz. Ao absorvê-lo e purificá-lo, mudamos sua essência e nosso vínculo com ele. Não era o crescimento do nosso poder ou insight que estabeleceu as condições necessárias.
Era a vida que vivemos.
E as pessoas que perdemos.
Como se aguardasse nosso chamado, a aparição espectral de Aldir surgiu ao nosso lado, pairando além da esfera de spatium. Seus três olhos estavam abertos, fixos no Destino. Ele não se virou nem reconheceu nossa presença. Poderia muito bem ter sido apenas uma imagem imaginada no caos, como ver um rosto nas veias de uma madeira recém-cortada. Exceto que ele avançou com propósito, sua figura fantasmagórica em tons de púrpura atravessando os fios dourados sem resistência enquanto se aproximava do Destino.
A entidade observou com o que interpretamos ser curiosidade enquanto a figura etérea se dissolvia nele. Tornando-se parte do todo. Acrescentando a experiência de uma vida à coletividade.
A experiência de uma vida. Aldir foi a ponte entre Epheotus e este mundo. Ofereceu tanto orientação quanto punição, assumindo os papéis de general e assassino. Talvez ninguém em Dicathen, Alacrya ou Epheotus tenha sido tão fiel ao próprio propósito — servir a Kezess — e, ainda assim, ninguém foi punido com tamanha severidade por isso. O uso da Técnica Devoradora de Mundos — cujo conhecimento foi o trabalho de sua vida — o destruiu. E agora, a memória daquele ato estava gravada no Destino.
Um silêncio absoluto caiu. Até o sopro do vento vindo de Epheotus e o ranger de pedras nas Relictombs tornaram-se suaves, contemplativos.
Do nosso outro lado, outra figura tomou forma, um fantasma de éter. Alta, com pés de galinha ao redor dos olhos, a sombra de Cynthia Goodsky avançou até o Destino.
Refletimos sobre o que sabíamos de sua vida enigmática: uma espiã e agente a serviço de Alacrya, que viu em Dicathen uma cultura mais bondosa e humana. Como Alaric, havia sido moldada pela crueldade do regime de Agrona, mas ao descobrir que existia uma alternativa ao mundo que conhecia, fez a escolha de proteger, acolher e ensinar; em vez de destruir.
A próxima figura a aparecer foi a primeira a nos reconhecer. Seus longos cabelos, loiros em vida, agora rosados e púrpuras, balançaram em uma brisa invisível enquanto Angela Rose nos presenteava com aquele sorriso de princesa capaz de ruborizar qualquer um com um olhar. Mesmo sob os efeitos gelados do Gambito do Rei, meu coração doeu.
Ela piscou, então fundiu-se ao Destino.
Alduin e Merial Eralith surgiram em seguida. Ambos olhavam para Tessia com orgulho, lágrimas como diamantes cor-de-rosa cintilando em seus olhos. No espírito de Tessia, um punho cerrado afrouxou-se levemente.
— Mamãe… papai.
Juntos, deslizaram para dentro do Destino, levando consigo o conhecimento de seus erros, mas também o fogo da paixão que os levou a cometê-los: o desejo inabalável de proteger a filha.
Então, Adam surgiu. E também Blaine e Priscilla Glayder. Jared Redner, Doradrea Oreguard, Theodore Maxwell. Alea Triscan e Olfred Warender. Os jovens guerreiros, Cedry e Jona. Lauden Denoir, o protetor de Caera, Taegan, e Sulla Drusus. O sentinela alacryano Baldur Vassere. E até mesmo a pequena Enola Frost, cuja perda sequer havíamos percebido.
Fantasma após fantasma manifestou-se do éter: todos cujas vidas havíamos tocado, e que nos haviam marcado. O éter, atraído pela força do rio etéreo, pela presença do Destino e pelo vínculo que nos ligava a essas almas nesse momento crucial, carregava uma centelha de quem eles foram, à medida que se uniam, um por um, ao Destino.
— Eles estão transmitindo sua humanidade ao Destino…
— Oferecendo a empatia e o instinto protetor que lhe faltam.
— Falando por experiência própria, misturar um monte de personalidades opostas e dar-lhes consciência pode ter resultados instáveis.
E então… a Vovó Rinia apareceu. Ela surgiu de frente para nós, cada linha de sua face antiga gravada em tons violetas. De todas as aparições etéreas, ela parecia a mais real, a mais ela mesma. Talvez porque, no fim, ela já tivesse entregue tanto de si ao vislumbrar o futuro, que já era parte do éter. Parte do próprio Destino.
Ela foi a primeira aparição a falar.
— Arthur. Oh, Arthur, meu belo menino. Você se saiu bem. Tão bem. E ainda assim… — Seu olhar percorreu meu corpo manchado de sangue, e senti o peso do olhar dela atravessar minha carne e tocar meu núcleo, boa parte dele já consumido ao canalizar seu poder. — Sinto muito, Arthur. Queria tanto ter feito mais por você… mostrar um caminho mais claro. — Ela baixou a cabeça, e quando voltou a olhar para mim, seus olhos eram galáxias. — Agarrem-se uns aos outros.
E então ela se foi, dissolvendo-se no Destino.
Um pulso percorreu o número infinito de fios que se estendiam a partir do Destino, e o sentimos como uma lâmina em nossos corações. Com nossos sentidos ainda entrelaçados aos caminhos do éter, sentimos esse pulso atingir todos os outros. Cada pessoa. Em todo o mundo. Mãos agarrando peitos, pulmões sufocando por ar, olhos transbordando lágrimas.
As Relictombs continuavam a subir, envolvendo o espaço ocupado pelo Destino e deixando uma espécie de varanda aberta esculpida na Espiral. A estrutura havia perfurado o primeiro anel, seguindo o feixe de éter que crescia em torno da fenda de Chama Eterna.
Uma mão pousou em nosso ombro, vibrante de energia. Reconhecemos o toque no mesmo instante. A força dele fluía em nós. Nem mesmo o véu emocional que nos cobria impediu que a umidade se formasse no canto dos nossos olhos. Sua voz, ecoando distante através do tempo, ressoou em nossos ouvidos:
— Proteger minha família sempre foi minha prioridade, mas também quero que vivam felizes. É por isso que estamos fazendo isso. Dicathen pode não ter sido seu único lar, Arthur, mas é o único que conhecemos. E se isso significa morrer para que Ellie tenha um futuro melhor, então que assim seja.
Nosso peito doía com a lembrança das últimas palavras dele. Doía ainda mais porque ele estava certo. Aquele Arthur Leywin havia sido tomado pelo medo de não ser forte o suficiente, e falhou em entender que não era o único que queria proteger sua família. Nem o único que merecia a chance de fazê-lo. A morte de Reynolds Leywin não havia provado que estávamos certos… havia deixado claro o quanto estávamos errados.
— E é isso que o Destino não consegue compreender. Certo e errado já se misturam quando há apenas algumas mentes lutando por espaço dentro da minha cabeça. Agora imagine um milhão, um bilhão! Todas em conflito. Acho que é a mais pura essência da natureza humana… ou djinn, ou élfica, ou seja lá o que for.
— Você tem razão. Por isso o Destino precisa aprender a ser um guardião. Um protetor. Um…pai.
— Vozes claras no meio do caos.
Papai fingiu um golpe rápido, que apararmos com uma espada invisível. A risada dele ecoou de todas as direções quando ele nos saudou com um gesto rápido e saltou para trás. Para dentro do Destino.
— Valeu, pai.
Esperamos, na esperança de ouvi-lo novamente, mas o Destino apenas permaneceu ali, suspenso pelos fios infinitos que o ligavam ao resto do mundo.
Acima, o último fragmento de Epheotus adentrava os céus sobre Alacrya. As duas pontas do terceiro anel se uniram. As Relictombs subiram através dele, perfurando e sustentando os três anéis. Do outro lado do mundo, a Espiral fez o mesmo, erguendo-se das Grandes Montanhas onde antes existia a Muralha. A Fonte de Chama Eterna foi refeita pelo Réquiem de Aroa e guardada na primeira câmara das Relictombs, onde eu havia despertado. O fluxo contínuo de éter agora alimentava tanto as zonas quanto a ponte que sustentava os três anéis de Epheotus, agora firmemente posicionados ao redor do nosso mundo.
Preparei-me para a próxima onda de pressão etérea, mas ela não veio.
Os fios do Destino se moveram ao redor da cabeça sem feições, assumindo algo que quase parecia… um sorriso.
— Você conseguiu. — Uma pausa. — Nós estamos… prontos para sermos pacientes. Desde que, no fim, a pressão seja liberada. Lembre-se: o reino etéreo não pode ser contido para sempre. Ensine este mundo, Arthur Leywin. Prepare-os. Para o que vem a seguir.
O Destino desvaneceu-se, embora uma teia de fios dourados permanecesse, preenchendo a abertura na Espiral. O céu acima dos anéis perdeu seus tons vermelhos e violetas, tornando-se azul. O vento diminuiu. O ruído constante da pedra se remodelando cessou.
A esfera de spatium desceu lentamente, até que estávamos diante do gigantesco portal. Ele se desfazia nas bordas, como tecido esgarçado. Com o God Step, puxei suavemente o ponto de conexão central. Um estalo estático percorreu o ar, e o portal se desfez como fumaça ao vento.
— Acabou.
— É isso? Mundo salvo? Relictombs, Epheotus e tudo mais?
— A queda de Epheotus ainda causou muitos danos. E há feras incrivelmente poderosas soltas pelos dois continentes.
— Parece uma ótima chance para os novos vizinhos construírem uma boa relação com Dicathen e Alacrya. Melhor já enviar uma solicitação para um esquadrão panteão de extermínio.
Pousamos no vale que agora circundava a base da Espiral das Relictombs. As pessoas saíam dela aos montes, confusas e assustadas, todas com os olhos voltados para o alto, seus olhos grudados na Espiral, tão alta que seu topo era invisível, e para os três anéis entrelaçados em seu cume, que de tão distantes pareciam sombras azuladas no céu. Um caos de gritos por ajuda, preces aos Vritra e murmúrios sem sentido tomou o ar.
Meu olhar, ainda desencarnado e ligeiramente dissociado, seguiu o deles. Diferente das pessoas aglomeradas ali, porém, meus olhos podiam enxergar através de todas as vias etéreas. Via tanto os caminhos lisos gravados na rocha ao redor da base da Espiral, quanto toda a extensão escalando os céus a partir tanto das Montanhas Presas do Basilisco quanto das Grandes Montanhas.
Eu via o mundo inteiro — um orbe flutuando na escuridão — agora circundado por três anéis de terra que continham tudo o que restava de Epheotus. Os três anéis se entrelaçavam onde a Espiral os transpassava, cada um lançando sombras sobre o inferior.
Ouvia os gritos de júbilo dos asuras no Castelo Indrath e no Ninho Passo de Pluma. Os gritos dos anões enterrados nas profundezas de Vildorial e dos humanos aglomerados sob uma barreira de fogo fênix em Xyrus. As preces silenciosas dos alacryanos apavorados em Cargidan e Rosaere.
Aqui, no entanto, ao nos aproximarmos da entrada da Espiral, um silêncio absoluto pairou sobre nossa chegada. Cruzamos a multidão sem uma palavra, passando pela nova vila que circundava a ampla base da Espiral. Um portal imponente, formada a partir do portal primário de ascensão, antes situado no segundo nível das Relictombs, reluzia em boas-vindas.
Lá dentro, encontramos ainda mais pessoas, todas igualmente perdidas e incertas. O silêncio que nos seguia era quase opressivo.
Prosseguimos até o centro exato do nível, onde uma certa estrutura cristalina agora repousava, trazida das profundezas. Cercada por um pátio e três escadarias em espiral que conduziam para cima e para baixo, a última peça das Relictombs permanecia em ruínas.
Não houve necessidade de explicação, afinal, Tessia e Ji-ae faziam parte de nós. Tess apertou minha mão, completando por um instante o desenho da formação mágica que cruzava sua pele e a minha, e então pressionou a mão contra a estrutura cristalina. O Requiem de Aroa liberou partículas brilhantes sobre minha pele primeiro, depois sobre a dela e, por fim, sobre a carcaça que abrigava a remanescente djinn.
As formações mágicas se dissiparam. O cristal acendeu e os anéis de pedra ao redor, tão similares aos recém-formados anéis de Epheotus, começaram a girar. Conexões etéreas se restauraram, redirecionando-se para a câmara da Fonte de Chama Eterna muito, muito acima, e empoderando Ji-ae.
— Pode retornar ao seu propósito anterior — falei em voz alta, já que nossas mentes não estavam mais conectadas. — Seus pares foram relocados conforme indicado pelos nossos diagramas.
— Eu sei, é claro. — Ela respondeu, com um sorriso na voz que reverberava no ar. — Agora, por favor, perdoem-me. Tenho recalibrações importantes a fazer.
Com um riso abafado, me virei, desativando primeiro o God Step, depois o Realmheart. A Destruição já havia se dissipado, suprimida por Regis, cuja forma esvoaçante flutuava semiconsciente em meu núcleo. Em seguida, o Réquiem de Aroa desvaneceu, e finalmente, a vontade de Myre. A súbita escuridão que se abateu sobre minha conexão com Sylvie e Tessia me fez sentir, por um breve instante, desesperadamente solitário.
Juntos, nós três voltamos pelo mesmo caminho. Algumas pessoas agora se atreviam a nos chamar, algumas até se aproximavam, perguntando o que estava acontecendo, implorando por ajuda. Suas palavras ecoavam em meus ouvidos como um coro distante, e eu não conseguia me obrigar a responder. Sylvie disse algo, mas não ouvi o quê; minha mente estava voltada para dentro, examinando a si mesma.
O Gambito do Rei, ele ainda ativo. Minha mente, agora um entrelaçado de incontáveis pensamentos, estava dispersa e incoerente. Não conseguia pensar com o ruído de meus próprios processos mentais em conflito.
Não sabia sequer se poderia desativá-lo, temendo que eu já fosse o Gambito do Rei agora, que ele houvesse se tornado a parte dominante de mim. O que aconteceria se eu deixasse de canalizá-lo?
— Você é muito mais do que apenas essa runa divina, Arthur — disse Sylvie ao meu lado. Ela estava focada na multidão, com uma mão erguida em reconhecimento a um rosto desfocado entre as pessoas, mas lutava tanto quanto eu; seus dedos tremiam levemente, seus olhos sombreados e marcados por círculos escuros.
Eu não sabia como ela havia reconhecido meus pensamentos, já que minha mente estava trancada para proteger ela e Regis.
Ela me olhou e arqueou uma sobrancelha com ironia.
— Ah, por favor, Arthur. Como se eu precisasse ler seus pensamentos para saber o que está pensando.
Tessia segurou minha mão e nos puxou até pararmos, girando para me encarar. Pressionou a mão contra meu peito, acima do núcleo, e franziu a testa.
— Honestamente não sei como ainda está de pé, mas mesmo você tem limites, Arthur. Já te perdi uma vez por se forçar demais. Relaxe um pouco. Enquanto ainda pode.
Talvez já seja tarde demais para isso, pensei, ainda que externamente sorrisse e apertasse sua mão contra meu peito.
Bem lá no fundo, sob o toque dela, rachaduras se espalhavam como pequenos relâmpagos brilhantes na superfície do meu núcleo de éter, ecoando o núcleo de mana despedaçado logo abaixo.